Hidroaviões em Lourenço Marques, passageiros e correios nos anos 30 (1/2)

FOTO 1 de Lourenço Marques (LM), actual Maputo em 1937 encontrada no site russo aviadejavu (aqui) e que dá oportunidade de falar de hidroaviões na cidade. Estes na altura eram muito usados pois podiam aterrar no mar, em lagos ou rios em regiões onde não houvesse aeroportos desenvolvidos. Não era bem o caso de LM em que havia um aeródromo básico e estava outro muito melhor em preparação mas de muitas outras localidades em que teria de fazer escala, como veremos,  a primeira linha aérea intercontinental que passou pela cidade.

FOTO 1
Lourenço Marques visto de sobre a baía (com flutuador de hidroavião à esquerda)

A primeira parte da legenda da foto era: A cidade bem planeada e aparentemente espaçosa de Lourenço Marques (LM) - a última base antes de Durban. À esquerda vê-se a Av. 24 de Julho e à direita a Pinheiro Chagas, actual Mondlane. A maior novidade é vê-se que esta avenida tinha afinal três secções diferentes, na Polana com duas fiadas de árvores a meio, depois com uma e depois sem nenhuma. Entre essas duas avenidas largas vê-se a Afonso de Albuquerque, actual Touré, todas elas ligando-se ao Alto-Maé para o fundo. 
Tinhamos aqui falado da situação da urbanização da Polana em 1933/34 na zona da concessão da DBLS. Nesta foto de 1937 parece que tinha já havido alguma evolução e que os espaços livres se começavam a preencher. 
Segundo o site aviadejavu o hidroavião (flying boat) nesta foto era do modelo Calcutta da fábrica inglesa Short (S.8). Isso pode-se verificar pelo desenho do flutuador de estabilidade colocado sob a asa inferior que aí se vê e comparando-o com os flutuadores dos hidroaviões desse modelo nas duas fotos seguintes:

FOTOS 2 e 3
Short's Calcutta, hidroavião biplano com três motores

Compare-se o flutuador da FOTO 3 (que foi rodado para a direita para se verem na mesma posição) com o da FOTO 1. Ambos têm um par de suportes em tubo nos dois extremos abertos para os lados, mais um suporte cruzado subindo de trás para a frente na diagonal. 
Também se pode ver que a FOTO 1 foi tirada da janela da frente com o hidroavião a voar no sentido para norte da cidade de LM como se pode imaginar olhando na FOTO 4 para o pormenor da fuselagem dum dos primeiros Short Calcutta:

FOTO 4
Short Calcutta (matrícula EBVH) a ser rebocado (cabo esticado na proa). 
À direita, o suporte cruzado do flutuador subindo de trás para a frente na diagonal.

Confirma-se assim a informação do site russo aviadejavu de que a foto foi tirada dum Short Calcutta. Esse tipo de hidroavião foi usado pela Imperial Airways de 1928 a 1935 entre o Reino Unido e a Índia.

Short Calcutta na linha Europa-Egipto-India

Foi a mesma companhia Imperial Airways que extendeu depois a ligação com hidroaviões para o sul de África. Foi a linha entre Durban e Southampton (Reino Unido) seguindo pela costa oriental de África desde Mombassa com passagem por LM e que foi inaugurada em Junho de 1937. Mas nessa linha a companhia usou o Short Empire (S.23) que era bastante diferente do Short Calcutta visto nestas fotos. Do Short Empire veremos também fotos, mas infelizmente não em LM, na mensagem seguinte.
Por isso a FOTO 1 sobre LM não deve ter sido dum voo regular da Imperial. Podia ser por exemplo um voo preparatório para o qual não era necessário usar o modelo de hidroavião exacto que fosse abrir a linha ou a Imperial podia estar a transportar pessoas e/ou equipamento para a base que ia abrir em Durban, etc, etc. 
Mas a legenda da FOTO 1 terminava com: Durban, where S.A.A. take over the good work.... Durban, onde a S.A.A. toma conta do bom trabalho. Quando ainda supunha que se tratava dum voo regular entendi como se estivesse a referir ao transporte subsequente dos passageiros para os destinos finais dentro da África do Sul. Mas se o voo não era regular e se a Imperial até já nem usava esses hidroaviões, o "tomar conta" podia querer dizer que o avião tinha sido recondicionado e vendido à SAA. Mas consultei o museu da SAA e não fala da SAA/SAL ter comprado ou usado hidroaviões. 
Assim começei pela impressão forte de que a FOTO 1 tinha sido tirada num voo regular da Imperial que se dirigia de LM para Durban e acabei numa das confusões habituais ao esgravatar o assunto procurando os meus "quem, o quê, onde, como, quando e por quê": donde vêm as legendas da FOTO 1 no site russo? O que quer dizer o "toma conta"? Que fazia aquele hidroavião em LM em 1937? De que companhia era? Ao menos confirmou-se que era um Short Calcutta, podia ser pior.
Temos uma foto do hidroavião City of Alexandria da Imperial (destruiu-se em 1936) por volta de Dezembro de 1933 amarado em Lourenço Marques 

FOTO 5
Short Calcutta registado como G-EBVG City Of Alexandia (como o do cartaz) em LM

Não consigo localizar a posição da foto de cima no litoral da cidade, a maior probabilidade seria do prédio ao fundo ser o Capitania Buildings mas não me parece.
Mais tarde, já a carreira estava em operação, podemos ver onde amaravam no estuário os hidroaviões, um pouco para SW do cais das estâncias:

CARTA DO ALMIRANTADO DE 1951
Vermelho: boia de amaragem dos hidroaviões
Roxo: cais da estâncias
A referida notícia de O Ilustrado de 1933 tem também uma foto tirada nas instalações portuárias junto à doca da capitania presumo, o que reforça a ideia de que a aeronave terá estacionado no seu interior por isso com vista para esse edifício. A legenda diz que se tratava duma visita de estudo a LM feita pela Imperial Airways.

FOTO 6
Dois pilotos e um agente comercial da Imperial Airways
mais funcionários da Casa Rennies que devia ser o seu agente em LM

O site voandoem mozambique tem uma foto de Novembro de 1933 dum Short Calcutta G-EBVG na Beira pelo que estaria relaciono com a visita de estudo a LM de que vimos as duas foto de coima. 
Ver a mensagem seguinte sobre o tema.

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